quarta-feira, dezembro 21, 2011

O que te motiva?

Após uma conversa sobre perspectivas de vida, o que fazer dos dias e o que fazemos na realidade, fico pensando se estou contente com minha situação atual. A resposta vem pronta, "não". Por quê? Ou melhor, qual é a minha situação atual? Refletindo sobre isso, parece-me óbvio que eu não estou fazendo coisas que eu acredito que deveria estar. Faço coisas que me divertem e me ocupam, mas não me dedico às que eu acredito que deveria estar me dedicando.

É com isso em mente que farei, esse ano, resoluções para o ano seguinte. Coisas pequenas que desejo implementar na minha vida. Projeções de futuros possíveis, os quais desejo que sejam presentes constantes. Só há um jeito de torná-los reais: agindo. É por isso que, neste exato momento, estou terminando este textinho e colocando essas ideias em ação. Compartilharei futuramente, de caso pensado. Agora, porém, é o momento de fazer outras atividades.

segunda-feira, dezembro 19, 2011

Uma noite chuvosa e meio zen

Eu disse aqui que
Chegamos à crise da vez: eu não sei o que fazer da vida.
Não faz muito tempo que escrevi isso. De lá pra cá, pouca coisa mudou. Bem, isso dito de um ponto de vista bastante generalizador. Tenho certeza que zilhões de células minhas morreram e outras tantas nasceram. Ainda assim, ainda pensando nessas grandes massas que achamos que são pessoas, creio que algumas coisinhas foram se deslocando, se destacando, se rearranjando. Estou às portas de uma viagem que durará três meses e na qual quero recuperar alguma serenidade de espírito. Falo como se houvesse perdido as esperanças no mundo, o que não pode ser mais mentira. Apenas estou sentindo que a volta do relógio começará mais uma vez, jogando-me para um novo mundo.


Meu fim de semana foi dedicado a amar minha mãe. Não foi difícil, amar é algo que a gente faz sem nem perceber, depois que aprende como. Algumas vezes até antes. Não disse eu te amo nenhuma vez para ela durante essa visita, tampouco ela me falou essas palavras que outrora trocávamos cotidianamente. Será que nosso amor um pelo outro diminuiu? Ou será que o estar próximo, o dividir palavras e sorrisos, o querer bem foi maior do que qualquer frase poderia representar?

Um amigo comentou que não sabia que éramos tão próximos. Respondi-lhe que somos mais do que mãe e filho, somos amigos. Ainda não encontrei, na vida, algo que valha mais a pena de se ter e cultivar do que amizades. Elas muitas vezes crescem conosco e nos dão a mão para crescermos. Também servem para, quando for o momento, nos ajudar a diminuir.

São amigos só aqueles que duram para sempre? São amores só aqueles que nos arrebatam loucamente? Não, simplesmente não. Eu posso ser amigo de alguém que conheci há um minuto, como posso amar quem não vejo há anos. Eu existo na interação, o mundo não faz sentido para mim solitário. Compartilho meus dias com quem deseja sorrir comigo, pois decidi há algum tempo abandonar uma certa tristeza que me acompanhava no silêncio da inexistência. Minha mãe chama isso de personalidade.


Lugares queridos também podem ser divididos, pois guardam memórias. Lembranças são essas coisas boas que não maculam nem agridem, elas somam. Eu sei que quando for ao café que custa caro e vende smoothies gostosos, não será apenas o paladar que será agradado, mas também o coração. Eu compartilhei um momento bom.

Ouço agora Jorge Drexler cantando:
No tengo a quien culpar
Que no sea yo,
Con mi reguero de cabos sueltos.
No me malinterpreten,
Lo llevo bien,o por lo menos
Hago el intento.
A hermana duda que o acompanha também vem a mim. Nesta noite, porém, ela atendeu ao pedido e deu-me um respiro. Minha mãe retornou para a praia, e eu bem que gostaria de estar com ela. Porém, ficará a memória desses dias, lugares e pessoas visitados. Ela comprou chocolates para marcar. Eu escrevo, eu penso, eu memorizo vivências. Eu colo nas minhas paredes. Há muito ainda por colar, como também creio que há para viver.

Hoje estou assim, reflexivo, distante. Não estive calmo o dia inteiro, já enfureci, já acalmei, já repensei. Farei projeções de fim de ano, pela primeira vez na vida. Está na hora de dar mais passos rumo a ser quem eu desejo ser, uma imagem sempre mais além de onde estou. Talvez não haja nada menos zen do que isso, mas talvez seja precisamente isso que me encanta em estar vivo. A vida pode ser um comercial de margarina com uma família de amigos.


Nem precisa durar pra sempre. Basta durar enquanto fizer sentido. Contudo, não nego que fico feliz por algumas permanecerem ainda hoje.

Por que não sou jornalista?

Nós, seres humanos, narramos nossa experiência e damos sentido a ela através do relato. Organizamos os acontecimentos, ordenando-os e colocando-os numa determinada sequência que, no fim das contas, faz sentido. Ou que queremos que faça. Eu, raposa-pessoa, utilizo este espaço como uma terapia, como um momento de analisar a mim mesmo e minhas histórias, vendo e revendo o que penso e o que penso sobre o que penso. E o que escrevo.

Tenho pensado e escrito sobre minha (falta de) vivência jornalística sempre repetindo as mesmas ideias, sempre ignorando que as coisas talvez não sejam como eu conto. Digo o tempo inteiro que minhas escolhas me levaram para longe dessa profissão, que a velocidade das coberturas e escritas jornalísticas me deixam com vertigem e que, por isso, escolhi outros caminhos. Escolher, esse é o verbo principal nessa frase. Ainda que nada dessas coisas que eu diga sejam mentiras, elas não apontam para aquele fiozinho de verdade, ou de mais-verdade.

Ontem me peguei pensando sobre minha vivência profissional e lembrei dos inúmeros testes que fiz para entrar em redações de jornal, fosse como assistente de redação, fosse como diagramador. Em todos os casos, eu não fui aprovado nas seleções. Houve uma vez que também tentei para uma editora famosa do Rio Grande do Sul (mas de projeção nacional), porém não passei no teste de conhecimentos gerais. Eu não sabia quem havia ganhado prêmio Nobel, quem havia recusado e também a minha memória me falhou na hora de dizer nomes de livros favoritos. Pensando bem, faz sentido que eu não tenha sido aprovado, uma vez que eu queria trabalhar com... livros.

Minhas experiências profissionais até o momento foram todas iniciadas por indicação. Claro, isso não significa que eu não seja competente. Ouso dizer que sempre fiz por merecer pelas posições que me foram dadas, o que de certa forma de alçava a novas possibilidades de trabalho. É o que tem acontecido até hoje. Porém, pensando na minha última tentativa, ou seja, o concurso para professor em Cachoeira, a minha história se repetiu.

Curiosamente, no momento de abreviar esses relatos, o gosto pelos livros ganha destaque frente aos testes fracassados. A narrativa se desenvolve pelo que aconteceu e se prolongou, ao invés das tentativas sem sucesso (não sei se foram muitas, menos de dez, provavelmente).

Eu seria um bom assistente de redação? Um qualificado editor? Um diagramador habilidoso? Não faço a menor ideia, mas arrisco que sim, sim e talvez. Contudo, essas falhas também fazem parte do lugar que ocupo neste momento. Das milhões de portas que poderiam ter sido abertas, foram as que eu consegui abrir ou que abriram para mim que construíram esse caminho. Não quero dizer que "ah, tudo bem, então, não haver passado nesses testes, foi para o melhor". Eu não sei se é o melhor. Talvez eu estivesse mais feliz trabalhando na L&PM do que estudando discursos sobre homossexualidade. Talvez Goiânia continuasse sendo invisível para minha percepção de mundo.

Por que não sou jornalista? Porque nas horas em que podia ser, não fui.

quarta-feira, dezembro 14, 2011

Mapa de masculinidades

http://prezi.com/jlt5mowhyvdm/mapa-individual-de-masculinidades/

Trabalho para uma disciplina do mestrado. Até ficou legal.

O banheiro de quem?


Eu dou aulas sobre sexualidade. Em um dos cursos que ministrei, utilizei uma outra tirinha do Laerte com a personagem Muriel para discutir justamente qual era a função dos banheiros separados por gênero. Ou, digamos, por sexo, já que mesmo que você seja uma mulher extremamente masculinizada, ou um homem feminino, seu banheiro corresponde ao fato de você mijar em pé ou sentado. Uma das alunas me perguntou qual era o banheiro utilizado pela travesti, o que iniciou uma discussão acerca do incômodo para esse sujeito transitório, mas também (e principalmente) para a pessoa que está dentro do banheiro dito correto. "Por que eu tenho que lidar com o desconforto de ter um travesti no meu banheiro?".


Esse é um dos reforços mais curiosos que percebo em relação a quem e como deve ser homem, quem e como deve ser mulher. Se nossas casas, em sua grande maioria, possuem banheiros mistos, por que estranhamos tanto a possibilidade de existirem banheiros assim nos espaços públicos? Qual é o argumento que sustenta essa separação? Falta de higiene masculina? Perigo para as mulheres? Bem, nós obviamente vivemos em uma sociedade machista misógina cretina. Altas chances desses medos se tornarem realidade. Eu ia, até uma hora atrás, pregar sobre um mundo ideal, agarrado ao utópico e às possibilidades de convivência. Só que, pensando bem, existem momentos em que é realmente difícil acreditar que isso seja possível. Quero dizer... digamos que todos usem banheiros mistos, aí um fiodaspu vai lá e estupra, bate, abusa de alguém. Não é difícil de imaginar o cenário, noite escura, horário vazio, silêncio. Ou muito barulho, para abafar tudo. Aí acontece e alguém levanta para dizer "viu? É para isso que existe essa separação!".

Não é, mas nós chegamos a um ponto tão complicado de existência em que esses poderes e abusos se misturam de uma forma aparentemente irreversível. Não dá para eliminar as disparidades de gênero sem acabar com o privilégio masculino. O que, creio, é intocável sem o fim das diferenças de gênero. Está aí algo que terei que pensar com muito mais carinho... Aceito sugestões...

* * * * *

Em tempo, comentei sobre como banheiros reforçam papéis de gênero e pelo jeito a coisa não é tão evidente quanto eu pensava. Vamos imaginar banheiros públicos, certo? Ignoremos shoppings, por enquanto. No geral, banheiro masculino não tem espelho. Feminino tem. "Ah, mulher se cuida mais". Isso, digníssimos, é papel de gênero. Construído socialmente. Tem mais: uma amiga veio aqui e não usou o meu banheiro, pois estava sujo. Eu pedi desculpas e ela me respondeu que era um típico banheiro de homem solteiro. Verdade, é mesmo. Por quê? Por eu ter sido sempre liberado de limpar coisas em casa, pois havia mulheres para fazerem esse serviço para mim.

Parece coisa pequena, mas é daquelas que vai crescendo conforme a gente vai enxergando o que meninas não podem fazer que meninos podem, o que garotos aprendem que garotas não precisam etc. Eu aprendi a achar que isso é só papinho de feminista exaltada. É um pensamento perigoso de reforço às condições humilhantes às quais as moças são submetidas. Igual a ter medo de andar sozinha. Como resolve?

terça-feira, dezembro 13, 2011

O que eu tenho chamado de lar

O que se está afirmando é que a nossa casa veio deixando de ser um lar, no sentido de constituir uma extensão de nossas emoções e sentimentos, veio deixando de ser um lugar expressivo da vida de seus moradores e da cultura onde se localiza. (O sentido dos sentidos, João-Francisco Duarte Jr.)

O que minha casa oferece para mim, em termos de emoções? É um lugar de conforto de resguardo, ou é simplesmente um espaço de acúmulo de tralhas, livros e memórias? O que eu sinto quando abro minha porta, além do alívio de escapar do sol? Costuma ser raro eu pensar na minha casa como lar, já que fui criado com pouco poder (ou vontade? Ou saber?) para interferir no meu quarto. Trouxe isso comigo para Goiânia, lugar em que todas as minhas interferências são possíveis de desfazer sem muito trabalho.


Na parede, papéis colados que lembram uma noite de amizade ou uma tarde de picolés de pequi (Peça, recebido das mãos de Gwavira Gwayá), bem como monstrinhos peluciados que me acompanham em dias felizes ou tristes. Livros literários, uma galinha de segurar portas que, promovida culturalmente, agora ergue livros. Um Hello Kitty discreta de uma festa esquecida. Percebo agora que todos meus adornos de parede são presentes. É difícil pensar detidamente sobre aquilo que vemos todos os dias. O tal do cotidiano se mascara tão rapidamente em outros pensamentos que soam mais importantes, que até chegam a nos surpreender quando lembramos que estão ali.





Meu lugar de trabalho é meu ambiente de sono e sonho. Deito, olho para as paredes e vez ou outra recordo de uma marca gaúcha, de um presente de amigo secreto ou de uma lembrança de amiga que não era nem é secreta. São fragmentos de uma vida que não me abandona, de dias risonhos e muitas vezes regados a vinhos, queijos e aprendizagens. Algumas nem acadêmicas, quem diria!


Uma raposa discreta na parede, observando o corredor, espreitando quem passa do quarto para a cozinha, da porta de entrada para a sacada. Ela me acompanha silenciosa e com uma marca de café. Logo eu, que não bebo dessas coisas que acordam a gente. Sempre fui do time dos que preferem dormir, dos que sabem que sonhar pode ser muito mais gostoso do que saber. Aliás, sonho tanto que até acordado me perco da realidade, resquícios de uma inexistência já antiga.



Por fim, meu vício. Quando chegava na casa do meu pai, a primeira coisa que eu pedia era papel e caneta. O que eu faria com eles não importava, contanto que eu sempre pudesse desenhar, escrever, imaginar e tracejar a tinta no branco. Branco porque não havia outras cores. Tinta porque nunca aprendi a usar lápis. Tenho medo de fazer riscos que durem pra sempre, aí acontece que meus rabiscos são tão fraquinhos que quase não se percebem. Daquelas coisas que a gente foi e vai e segue perdendo com o tempo.

Ou, às vezes, ganhando.

A tal da Academia

Já falei algumas vezes sobre como a universidade e o mundo da pesquisa muitas vezes se monta numa Torre de Marfim inalcançável para os humanos comuns e, em contrapartida, sem grandes efeitos nesses mesmos indivíduos. Parece ser recorrente a tristeza dos que vivem na área das Humanidades - e não haveria ironia maior? - pelo pouco efeito que seus estudos causam nos seres viventes. O que dizer de mim, ou de tantos outros, que cruzam áreas e não se definem em uma atuação específica? Sou formado jornalista, estudei expressão gráfica na arquitetura/design, e agora me envolvo profundamente com a cultura visual e a educação em artes, ao ponto de fazer um intercâmbio com a Ohio State University no departamento de arte-educação.

No meio de tudo isso, o que estou fazendo que tenha algum contato com a realidade? É, esse lugar em que vivem as pessoas de carne e osso, em que estudam, comem, transitam, conversam, produzem? Produzir, fazer, agir. Sinto falta de um fazer profissional, de um interferir diretamente no mundo. Claro, sei que estou me preparando para algo assim conforme vou estudando. Só que esse se preparar para algo soa tão distante que é difícil acreditar que um dia ele vá se tornar real. Quando acontecer, talvez minhas dúvidas feneçam e eu possa respirar aliviado. Como isso não tem perspectiva de se realizar e eu sigo empurrando sempre mais para a frente o dia em que terei uma vida profissional ativa, entro fácil nesses redemoinhos.

Quero ser professor, mas quanto mais estudo, menos eu acho que tenho pra ensinar.
Como faz?

domingo, dezembro 04, 2011

Política

Eu não tenho o costume de trazer postagens políticas, isso é um fato. Se tem algo que não me interessa, é o nível macro das relações humanas. Elas acontecem numa esfera tão distante do que eu consigo entender que, pra mim, é melhor simplesmente ignorar. Suas ondas e reverberações vão me atingir de qualquer forma. E atingiram a ponto de formular esse post, nascido de uma postagem em que duas imagens eram comparadas, uma de policiais norte-americanos jogando spray de pimenta em pessoas amarradas e outra de um policial sendo atirado com arminhas de água e rindo em meio a algum evento canadense. Óbvio, situações e contextos completamente diferentes. Seja qual for, qual o sentido de amarrar alguém e depois usar spray de pimenta? É pra mostrar que pode?


O grito tem, para mim, uma significação toda especial. Ele lembra a vida na especialização, sobre a qual já falei da turma que conheci. Durante as aulas de desenho, eu me colocava a desenhá-lo de todas as formas que conseguisse, muito mais como alternativa à minha alegada falta de habilidade do que por efetivamente querer ser engraçadinho.  Como eu disse antes, o macro reverbera no micro e aí passa a exercer poder sobre nós. Ou a exigir que exerçamos poder sobre ele. Sei que não posso fazer nada contra um policial que joga spray de pimenta em um manifestante amarrado. Também sei que posso não repetir o gesto, mesmo que metaforicamente.

sábado, dezembro 03, 2011

O lado do professor

Estive em Catalão hoje participando das bancas de defesa de TCC do curso de Licenciatura em Artes Visuais, na modalidade de educação a distância (EaD). Três grupos meus apresentaram, dois com nota final oito e um com nota nove. Mesmo tendo meus grupos sido aprovados com conceitos bons, fiquei pensando sobre a ansiedade que cada um sente durante o processo. As meninas estavam muito mais nervosas que eu. Imagino que, por já haver estado na posição delas e por estar lá hoje apenas como avaliador, eu realmente não tinha motivos para me sentir tenso.

Contudo, terminada a coisa toda, fiquei imaginando se o meu papel foi bem cumprido. Será que eu poderia ter investido mais tempo nos grupos? Discutido mais os trabalhos, tentado organizar maneiras de construir melhor as investigações e os referenciais teóricos? Será que deveria haver insistido nos momentos em que relaxei? Essas dúvidas vão me consumindo, enquanto professor, ao ponto de que ouvir que "nossa, muito obrigada, você nos ajudou muito" parece não ser suficiente.

Não é incrível como a gente sempre consegue duvidar de nós mesmos?

quarta-feira, novembro 30, 2011

Como mudar o mundo?

O investimento que tenho feito em participar da vida acadêmica tem me servido para observar o mundo a partir de lentes analíticas bastante detalhistas. Ou assim acredito. Por enquanto, ao menos, não perceberei se estiver enganado. O que, aliás, é um dos grandes truques e maldades de estar enganado: a gente não sabe de algo por sabermos outro algo.

Antes de pensar em como mudar o mundo, eu preciso saber um por quê, um de quem, um quando e também um onde. Talvez existam outras perguntas que eu ainda não percebo. O aprendizado delas veio do jornalismo, mas carrego comigo para me assessorar quando penso. Ou seja, sempre.

Chegamos à crise da vez: eu não sei o que fazer da vida. Esse foi um problema facilmente contornável ao longo da vida, pois as escolhas foram se apresentando. Mudar de escola para uma melhor, pois acreditava que o ensino da minha era ruim. Por que eu pensava isso? Não faço ideia. Por que escolhi o colégio que escolhi? Talvez o mérito dessa esteja na publicidade. Faculdade foi fácil, sei escrever, gosto de aventuras (?), então logicamente a escolha é o jornalismo. Especialização? Eu já trabalho com o visual. Mestrado? Cultura + visual, fechou todas. Coloca sexualidade na panela e o caldo está engrossado. Agora estou terminando o mestrado. O objeto dissertação já não me empolga. Eu já acho que ele mesmo poderia se transformar em alvo de análise. Reflexão sobre como se fez, como não se faz etc.

Eu suponho saber algumas coisas. Não quero trabalhar oito horas por dia. Nem seis, aliás. Quero viajar muito, estar em contato com pessoas ao redor do mundo. Falar vários idiomas, aprender a cozinhar coisas gostosas e coloridas, dançar sem tropeços e me defender usando meu próprio corpo. Desejo ler muitos livros, não porque eles podem me conferir algum adjetivo culto, mas porque são histórias. Narrativas me excitam.

Talvez esteja aí uma pista. Gosto do jeito que histórias são contadas, partilhadas, imaginadas, desenhadas desde o instante da inspiração súbita até a concretização procrastinada. Aprecio a ideia de tecnologia, de técnica, de compartilhamento através delas. O poder das palavras, das imagens, dos sons. Tenho seguido essa pista pelo viés acadêmico e estou começando a sentir que ela já não me empolga tanto por aqui.

Será que narrativas podem mudar o mundo?
Se sim, como mudar o mundo?

segunda-feira, novembro 21, 2011

Direitos iguais

Hoje, conversando com minha amiga, ponderávamos sobre o que podemos fazer para lutar contra a noção de que homens podem usar as mulheres. Algumas horas depois, procurando material para o curso de sexualidade que darei com uma amiga em fevereiro, me deparei com esse link maravilhoso! Esse vídeo abaixo é um dos colocados no site, vale muito olhar!


The video above has subtitles in English. It still happens. It shouldn't.

Cantadas grosseiras

Por volta da uma e meia da manhã deste sábado, recebi uma mensagem da minha amiga. Ela reclamava que havia recebido três cantadas enquanto trabalhava como fotógrafa. Eu, como bom exemplar macho, perguntei o que havia de ruim, já que ela estava sendo valorizada, e isso nos colocou numa breve troca de mensagens madrugada adentro, que em seguida avançou para os e-mails e segue até agora.

O resumo do argumento, que pode ser visto super bem defendido no Escreva Lola Escreva, é que essas cantadas se baseiam no direito que o homem tem de fazer o que quiser com as mulheres, que são meros objetos de uso e consumo. De preferência, uso e consumo rápido e descartável. E que essas cantadas agressivas podem facilmente virar agressões, invasões de privacidade e de corpo. Foi fácil, para mim, pensar que isso tudo era exagero, considerando que eu tenho um pinto e, por isso, corro esse risco numa frequência infinitamente inferior.

O vídeo abaixo é um comercial que mostra bem o quê as crianças aprendem rápido. Aprendem porque ensinamos. Ensinamos porque, mesmo sem saber, aprendemos. Já é hora de romper esse ciclo, não?


Around 1:30pm this Saturday, I received a message from my friend. She complained that three guys had passed lines on her during the time she was working as a photographer. I, as a good male, asked what was the problem, since her beauty was being recognized. That put us in a brief exchange of messages late into the night, which then advanced to the emails and still go on. Well, we have this habit, it sort of makes part of our friendship, even when we actually lived in the same town.


From my friend arguments and the blog Escreva Lola Escreva, I can summarize that those teasers are based on the idea that the man can do whatever he wants with women, mere objects of use and consumption. Preferably, fast and disposable. This idea can easily turn into aggression, invasions of privacy or of bodies. It was easy for me to think that she was being excessive. Well, I have a dick, so this happens to me almost never. I don't feel endangered or trespassed every time someone says I'm beautiful or that they want to fuck me the whole night. OK, this last one is creepy.


The video above is a commercial that shows what children learn really fast. They learn because we teach. We teach because even if we don't know it, we learnt it. It is time to break this cycle, isn't it?

Vale uma clicada

It's worth a click!

http://brianshumway.com/projects/true-men/


domingo, novembro 20, 2011

Como educamos as crianças

Não sei por quanto tempo esse vídeo vai ficar disponível no Youtube. Quando o assisti pela primeira vez, fiquei pasmo. Não só eu, como é possível ler no Ensinando Artes Visuais. Eu realmente preciso dizer algo sobre pensarmos em que educação queremos para as pessoas?


I first saw this video a few months ago. It let me speechless. Now, a few months later, I decided to write about it and I still can't say a thing. Is this teacher a human being? I'm not sure. But he represents part of the reasons for my desire to be a professor.

As amizades continuam

Dando continuidade ao que eu postei aqui sobre amizades, minha digníssima ML respondeu no blog dela, como podemos ver aqui.

Não quero pensar em fórmulas para manter os amigos, mas reitero o que sempre digo: o tempo é o adubo de qualquer relação. Como alguém que saiu de uma cidade para viver em outra, mas mesmo assim persiste e insiste em manter seus relacionamentos a longa distância, eu creio que são esses momentos de leitura e de compartilhamento que nos aproximam, não importa quantos quilômetros nos separem.


Since my friend answered my post about friendships, I think it's time to make the conversation between our blogs go on. She posted a very nice reference about friendship, discussing Freud and Winnicott. For Portuguese readers, it's quite nice. Well, would be nice for English readers also...


I don't want to think about formulas on how to keep your friends, but as I usually say: time is the fertilizer of any relationship. As a guy who left a city but insisted in keeping the friends, even from long distance, I believe that those moments of sharing and reading are what make us still be close to each other. The actual distance, in kilometers, isn't that important. We give part of our time to the ones we love.

sábado, novembro 19, 2011

Foucault

Eu acho o texto dele um saco, confesso!"Filósofo", disseram minhas amigas. "Francês, ainda por cima", complementaram. Eu sou partidário da teoria de que para ser inteligente não precisa escrever difícil. Isso não quer dizer que o que se está pensando é fácil de compreender ou não, mas acho válido o esforço de tentar compartilhar nossas ideias e descobertas da melhor maneira possível. Essa maneira não é enrolando.

Aí eu leio alguém que teve a paciência que eu não tenho, que leu Foucault e escreve a respeito e zap!, a coisa flui lindamente. "Ah, tu tem que ir na fonte", me dirão os acadêmicos. Por quê?



So, I don't like the way he has written his texts. My friends said that I need to take it easy, since he was a philosopher and a French one, to complete. Well, I insist that to be intelligent you're not obliged to write hermetically. This has nothing to do with the easiness of a subject, with its complexity or deepness. I really think worthy the attempt to share our ideas and thoughts in the best way possible.


Then I read someone who actually had the patience needed to read Foucault. It's amazing! This french philosopher guy had astonishing contributions for the world. But the Ivory Tower guardians will  say: "you must read in the original source". Now say, why?

sexta-feira, novembro 18, 2011

Presidenta

Hoje caiu nas minhas mãos o link para uma postagem relativamente antiga (do início do ano) sobre o nome presidenta, utilizado pela presidenta Dilma. Cá está ele, na Síndrome de Estocolmo. Muito bacana a reivindicação da autora, discutindo se é ou não apropriado que haja uma palavra específica para o gênero feminino no cargo de maior poder do País. Ora, os argumentos são perfeitos: não há razão para tentar preservar um uso machista da língua. Se até então não havia mulheres no cargo, é até certo ponto aceitável que a palavra também não existisse, porém não devemos esquecer que a linguagem, enquanto construção social, não serve apenas para indicar ou fazer referência ao que já existe: ela também cria realidades. Já que nosso idioma insiste em separar os gêneros, que pelo menos faça isso sem a presunção de que o masculino é o correto, não acham?

Isso me lembra meu primeiro momento de "intervenção proposital" na linguagem, quando ao ministrar um curso para 24 mulheres e 1 homem, usei o plural no feminino. Eu esperava alguma resistência, talvez ingenuamente. Talvez por ser um curso de gênero e sexualidade, a questão foi solenemente ignorada. Ah, bem, haverão outras oportunidades haha!



OK, now let's try it in English. Portuguese is a much more gendered language than English. We have very few, at least in comparison with English, words that are ungendered. And as it seems to happen all over the world, the masculine always comes first and is the supposed gender of any undefined word or sentence. And plural. If you have, in a group, at least one male, the whole group is called masculine. That's a complete absurd.


The blog I linked in this post brings up a discussion that is quite interesting. Our president, Dilma Rousseff, stands for the feminine version of the word president, presidenta. That word didn't exist so far in Portuguese, but she insists in its usage, despite the complains of linguistics and academics. I couldn't agree more with her, since language is one of the sites of exclusion. If you don't have a name to say something, it is basically non-existent. And how (or why) can I think of something that doesn't exist?

Queering Paradigms IV

Já que estou nessa vibe publicitária, aqui vai mais um evento do qual pretendo participar!


Chamada para trabalhos – Queering Paradigms IV

Caráter do congresso e das contribuições:
Após o sucesso de três congressos internacionais e interdisciplinares Queering Paradigms, realizados em três continentes, o Programa Interdisciplinar de Pós-graduação em Linguística Aplicada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Programa de Pós-graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e a Associação de Linguística Aplicada do Brasil (ALAB) têm a honra de sediar o quarto congresso, Queering Paradigms IV, a ser realizado do dia 25 ao dia 28 de julho de 2012. Nossos/as conferencistas serão Annamarie Jagose (Universidade de Sydney, Austrália), José Quiroga (Universidade de Emory, EUA), Alípio Sousa Filho (UFRN, Brasil), Jack Halberstam (Universidade do Sul de Califórnia, EUA), Luiz Paulo da Moita Lopes (UFRJ, Brasil) e Jô Gondar (UNIRIO, Brasil).
Assim como nos congressos anteriores, usamos o termo ‘queer’ para nos referir a um domínio indefinido e sem fronteiras de gêneros, sexualidades e práticas corporais não-normativas que inclui uma filiação a abordagens analíticas críticas, considerando também que o termo não ressoa globalmente com os mesmos sentidos a ele atribuídos em contextos anglo-americanos.  Portanto, para os propósitos do congresso, ‘queering’ implica questionar, contrastar, desafiar e destabilizar a heteronormatividade, não se restringindo a ela: o alcance da sua análise inclui a homonormatividade, normatividade de classe, religião, raça, e a normatividade científica e/ou disciplinar.
O objetivo do congresso é, portanto, analisar o status quo e os desafios para o futuro dos Estudos Queer e dos Estudos LGBTIQ a partir de uma perspectiva ampla e inter/multidisciplinar, com vistas a problematizar/desestabilizar (i.e. queer) discursos essencializados e paradigmas totalizantes.  Para discutir pesquisas sobre práticas sociais queer e LGBTIQ, nossa intenção é de colocar em diálogo pesquisadores/as de vários países e de diversas áreas de investigação, incluindo, mas não se limitando a, antropologia, sociologia, estudos da linguagem, teologia, ciência política, direito, medicina social, filosofia, geografia e psicologia social.
 Propostas para trabalhos e sessões coordenadas (panels):

Convidamos propostas para trabalhos e sessões coordenadas (panels) sobre qualquer aspecto dos Estudos Queer ou LGBTIQ. As áreas temáticas para submissão de trabalhos são:
·         Queering ética
·         Queering instituições
·         Queering práticas da linguagem
·         Queering artes e literaturas
·         Queering práticas midiáticas
·         Queering raças e etnias
·         Queering epistemologias e metodologias
·         Queering ativismos
·         Queering temporalidades e geografias
·         Queering corpos, corporificações e identidades

As propostas serão sujeitas a um processo de avaliação por pares pela nossa comissão científica internacional e devem ser enviadas pelo nosso site: http://www.alab.org.br/eventos/queering-paradigms-iv, até o dia 15 de dezembro 2012.

International Gender and Language Association Conference

Sei que parece sacanagem postar um esqueminha cujo prazo já passou, mas não se desesperem! O prazo foi extendido até o dia 30 de novembro!


THIRD CALL FOR PAPERS
7th International Gender and Language Association Conference
IGALA 7
June 20-22, 2012
São Leopoldo, Brazil


Abstract Submission Deadline: October 31, 2011

quarta-feira, novembro 16, 2011

Curso EaD sobre sexualidade

Estão abertas de 15/11 até 30/11 as vagas para o curso Problematizando sexualidade em processos educativos, que será ministrado por mim e por minha amiga-colega Juzelia Moraes na educação a distância. O curso, de extensão, é gratuito e terá oito vagas (preenchidas por ordem de inscrição) abertas para interessados que não façam o curso de Licenciatura em Artes Visuais (modalidade EaD) da Universidade Federal de Goiás.

O curso destina-se a professores (atuantes ou em formação) interessados em discutir o tema da sexualidade em processos educativos. Nosso foco será o uso de fenômenos visuais para abordar a temática, propondo discussões que sobre corpos, gêneros e desejos. O curso funcionará como um espaço de troca de ideias e possibilidades na educação, sem a pretensão de oferecer fórmulas ou respostas para as dificuldades encontradas cotidianamente em sala de aula.

O curso acontecerá de 05/02/2012 até 05/03/2012. Para se inscrever, envie um e-mail para oficinaseadfav@gmail.com informando seu interesse.

terça-feira, novembro 15, 2011

Interpretation

I'm in touch with an artist in the US, exchanging emails regarding my trip to Ohio next January. "An artist" doesn't quite explain who he is and how nice it has been to speak with, but I have my policy of not using people's name in the Anthropomorfic Fox and it is not now that I will stop that. Anyway, he sent me an message speaking about a snowglobe and the song Imagine, from John Lennon, and asked if I knew them.

Now, there are at least two ways this can go. I can assume he is calling me a dumb south american boy who probably knows nothing about snowglobes and famous songs, since I come from such an underdeveloped place in the planet. I might even be right thinking that. Or I can think that he is just trying to stablish a contact without assuming what I should or shouldn't know.

I really prefer the second one, it makes me happier. If I turn out to be wrong, well, one person less to be in my life. If I am correct, than I live right now a better life. Ha =)

O que eu quero dos meus amigos?

Minha amiga - irmã, está lá no Facebook! - me mandou um e-mail pedindo que eu comentasse um texto que ela leu em um blogue. Uma explicação rápida: nós moramos em cidades diferentes, portanto nosso contato atual está fundamentado basicamente em texto, mas ele acontece constantemente e cotidianamente, ao ponto que eu sinto mais falta de ler dela do que de encontrar algumas pessoas do meu dia a dia presencial.

http://papodehomem.com.br/%E2%80%9Cvoce-e-a-media-das-cinco-pessoas-com-quem-passa-mais-tempo%E2%80%9D/

Enquanto lia esse texto, me pesquei pensando o que eu quero dos meus amigos e por que eles são quem são. Sempre disse que um critério básico para alguém ser meu amigo é, entre outras coisas (incluindo aí a capacidade de agarrar a minha confiança), ser invejável. Eu invejo meus amigos, é verdade. São pessoas que têm características que eu gostaria de ter, e que além disso têm a capacidade de se manterem invejáveis ao longo do tempo. Quando tu convive com uma pessoa por vários meses ou anos, a tendência natural é que ela comece a perder esse efeito mágico de atração. Afinal de contas, a gente aprende com o amigo e, aos poucos, vai se tornando mais parecido. Há pessoas que têm só aquelo pontinho para te ensinar, ou que talvez tenha muitas outras coisas que não despertem interesse, e essas pessoas, infelizmente, vão passar.

O que eu quero dos meus amigos, além de amizade, é me tornar uma pessoa melhor, pensando sempre em quem eu quero ser e ainda não sou. Se não tem nada que eu preze mais do que o estímulo a me superar, tem como não amar quem me proporcione isso?

domingo, novembro 13, 2011

It is about time

Is there anything more important than time? I mean, with all our developments, it still is our greatest challenge: we can't beat the clock. Since it never stops, we create things to help us make the most of it. We can call people that are in the other side of the planet, we can send messages through the internet, we can leave notes. But it is all limited.

I don't think I'll forget anytime soon what I read in a book about polyamory: you can love how many people you may, but never forget that you do have a time limitation to handle. You can't do everything, at least not in a profound and bounding way. Relationships take time. Love does too.

How long you dedicate to something tells what is important to you. Seems like a simple rule to follow.

Trabalhar

Mencionei recentemente que vou parar de trabalhar no fim de novembro. Minha chefe imediata me pediu que eu considerasse a possibilidade de ficar ao longo de dezembro, pois só viajarei em janeiro. Estou cogitando algumas possibilidades de horários diferenciados, quem sabe até mesmo não trabalhar o tempo inteiro na sede da empresa, aproveitando um pouco para ficar em casa e organizar melhor o meu ir e vir. Eu quero que dezembro seja meu mês de arrumação final da dissertação (ao menos, uma organização de forma que ela fique "terminada") e de preparação para a viagem.

Aí acordo hoje e vejo trabalhadores na rua, asfaltando um trecho que, na última semana, estiveram esburacando e colocando canos gigantes. Coisa que evidentemente exige técnica, mas também exige força. O que eu faço não pede força. Pede concentração, atenção, foco, mas não força. O que eles fazem também pode ser melhor feito com concentração, atenção e foco. Quando comecei a escrever o post, eu pretendia escrever sobre como as pessoas nascem com algumas qualidades aqui e outras ali e que talvez fosse de alguma forma genético que potenciais elas têm para desenvolver ao longo da vida. Contudo, eu não sei se acredito nisso. Não sei se eu algum dia teria a destreza para ser um jogador de futebol, coisa que meu pai se esforçou para me ajudar, antes de desistir e determinar que o meu caso era de "tempo e estudo". Não sei se eu daria conta de aprender e lidar com o número infinito de informações e dados que se esperam memorizados de médicos. Não sei se eu poderia ser um cozinheiro profissional. Um ator. Um ator pornô. Um dançarino. Um engenheiro. Assim como eu não acredito que a maior parte das pessoas pudesse fazer o que eu faço.

Esse é o momento em que eu preciso voltar à discussão sobre etnocentrismo. Não acho que o que eu faço é, de alguma forma, superior ao que os trabalhadores estão fazendo na rua. Também não acredito que um médico, por envolver vidas diretamente, realiza uma tarefa que mereça estar em uma posição social superior a, digamos, um pescador. "Ah, mas pescar envolve menos conhecimentos do que a medicina". Talvez. Posso até concordar, para fins de argumentação. A pergunta que nasce é: e daí? E o queco? Por que nós precisamos valorizar como superior, independentemente de exigir mais ou menos conhecimentos? Está aí algo que me incomoda...

quinta-feira, novembro 10, 2011

Não fazer o que você quer não é ser burro

Hoje no serviço meu chefe sugeriu que eu deveria usar a cabeça para pensar melhor minhas opções, pois pretendo sair do emprego no fim de novembro. A intenção é ficar dezembro concentrado na minha dissertação, para que eu possa viajar mais tranquilo de janeiro a março. Na ideia dele, seria bom para mim (pelo dinheiro) e para a empresa (pelo meu serviço) que eu continuasse pelos 20 dias de trabalho em dezembro.

Ele não está errado. Isso obviamente não significa que ele está certo, porém. O dinheiro que entraria pelo trabalho em dezembro certamente me viria em boa hora, considerando os gastos absurdos que tenho pela frente nessa viagem a Ohio. Entretanto, meus objetivos de vida envolvem meus estudos em primeiro lugar, o que significa largar o trabalho a qualquer momento em que ele esteja me atrapalhando e não seja imprescindível.

Acho que tomei minha decisão.

quarta-feira, novembro 09, 2011

What one can teach?

I teach English to two classmates. They are PhD students and want to learn it in order to travel abroad. As you can probably notice, my English is not exactly perfect. Anyway, I teach them. How is that possible? Well, to explain that, I need to go back to May, when I was trying to decide if I would do a exam for a teaching position at a Federal University in the northeast of the country. I consulted with several professors, and they all said pretty much the same: "do you think you have something to offer to an undergrad student? If you do, you should try this exam".

That's what I think about teaching English: I know I have something to share and I'm not promessing perfect lessons. They are aware of my limitations and choosed to have me as a guide. This is something I can offer.

terça-feira, novembro 08, 2011

segunda-feira, novembro 07, 2011

Pink boys

http://biggaynews.com/gay-high-school-student-16-suspended-by-principal-for-wearing-make-up-in-class/9251

I think in a pretty messed up world. Every time I need to argue about what people's beliefs can do one to another, I remember the last episode of the first season of Skins. The father of the gay boy's best friend is a very rigid muslim who says that it is not up to him to judge the gay boy. He states that he doesn't understand, but has faith in his god and believe that someday he will.

Then a boy wears make-up and some principal says he can't. I mean, the guy runs a school. His actions, more than the ones of most of the ordinary people, will get to uncountable kids out there. Even though, he chooses to be an ass and interrupt perfect opportunities of learning. I don't want to give lessons about gender right now, but let's think what can be learned from a boy who doesn't fit. I can right away think in two questions: first, why? Second, why should he?

To end this post, what about an old but very cool image?

*I got this one from Milkboys.

Saying goodbye

I work as a revisor of Portuguese. I took this job for two main reasons: to get money for my trip to the US, in January, and to meet people on the editorial area. This is my work field outside the Ivory Tower, and I really need to get in touch with it, now that my master course is ending. I don't have any desire of being a professional again, but I have an experience and would be very nice if I could merge it with my academic life.

Today I let my boss know that I'm quitting the job. I intend to dedicate December to finish most of my dissertation. The six hours I spent every day reading and fixing bad written texts will be used to help my student life. And then, after that, I'll be traveling, getting to know new people, reading, living. I'm excited.

As vidas de uma história

Eu costumo pensar na minha vida como um seriado. Não é a primeira vez que eu escrevo a respeito, dificilmente será a última. É um pensamento recorrente. Tendo a imaginar cada semestre, e também cada período de férias, como uma temporada. Uns personagens entram, outros saem. Alguns vão ganhando importância e outros vão se afastando. São histórias que continuam, se amarram, se envolvem. Uma grande narrativa permeada de narrativas internas.

Penso em 2006 como o ano que inicia essa história, mas na verdade ela vem desde vinte anos antes. Muito desses vinte anos nunca foram anotados aqui na raposa antropomórfica. São períodos dos quais eu me arrependo, os quais eu renego, esqueço, finjo que nunca tiveram importância. Não é triste, isso, deixar dezenove anos de uma vida guardados em uma caixa? Àquela clássica pergunta "o que tu mudarias se pudesse voltar no tempo?", eu tenho inúmeras respostas preparadas. Arrependimentos e tal. De uns tempos pra cá, fui aprendendo a viver com eles e a cada vez mais alcançar a vida que eu sonho pra mim. Essa vida está muito perto, depois de tantas transformações. Eu não precisei voltar no tempo para que as coisas chegassem ao ponto em que chegaram: tudo o que foi necessário, e não digo que é fácil, foi aprender. O caminho que funcionou (até agora) para mim não é uma fórmula aplicável à espécie humana. Nada garante que os mesmos passos resultariam em êxito para outras pessoas.

Comecei parando de dizer não a tudo que me cruzava a vida. Um sim aqui, outro ali. Um momento significativo com alguém tornado numa relação importante que se virou em amizade. Mais de uma, na mesma época. Meus melhores amigos que me acompanham até hoje são de 2006. De uma vida completamente assexual, passei a namorar, a buscar caminhos para viver um relacionamento afetivo. Foi difícil, irritante, doloroso, envolvente. O fim de 2008 trouxe o término de tantas coisas, que me senti como Erica, de Being Erica, no fim da segunda temporada da série: sem nada. Sem namorado, sem emprego, sem aulas. Completamente perdido.

Passei a dizer sim para tudo, já que não tinha mais nada. Ou pensava que não tinha mais nada. Com vinte e dois anos, queria aprender aquilo que algumas pessoas de quinze já vivenciavam há pelo menos cinco. Estava cansado de ser aquela pessoa à qual quem tinha problemas recorria, mas que nunca tinha os próprios problemas para resolver. Arranjei problemas. Planejei encerrar minha vida de Porto Alegre e iniciar uma nova em Goiânia, a fim de acelerar o processo. Funcionou, prestei prova para o mestrado e passei, e em 2010 iniciaria uma nova vida. O que eu não esperava eram os dois primeiros meses do ano, os months of valediction. Munido de um desejo louco, me aproximei ao máximo dos meus melhores amigos e tive, com eles, os melhores momentos que poderia ter vivido em anos. Talvez ainda hoje muitos desses dias ainda figurem entre os meus favoritos.

Em Goiânia, onde já vivo há quase dois anos, passei boa parte do primeiro acreditando que estava imune aos artíficios do coração. A gente sempre acha, não é? Meio Jorge Drexler, tu corazón va a sanar y va volver a quebrarse. Hoje já não duvido mais dos poderes desse estranho arqueiro do amor, mas também aprendi que ele não funciona simplesmente pela vontade. Ele exige de nós mais do que geralmente sabemos como fazer. É, aliás, uma das maldades da vida: temos uma só e exige-se de nós que joguemos pelas regras, porém só vamos aprendendo-as conforme a vida vai fluindo. De novo Drexler: Nadie sabiendo que morir también es ley de vida.


Em um mês e meio, mais uma temporada vai se encerrar. A previsão é que a nova dure apenas dois meses e meio, envolvida em uma cenário diferente e com personagens novos, que podem ou não começar a fazer parte da minha história. Mais uma vez, um momento de encerramentos, que talvez afaste personagens de mim. Acho que é a pior parte, a dor de saber que nem tudo pode caminhar conosco. Os caminhos não são sempre paralelos. Isso é verdade para pais e filhos, para irmãos, para amigos. If nothing lasts forever, than what makes love an exception?


Então amanhã levantarei para mais uma segunda-feira, irei ao trabalho, cumprirei minhas obrigações. Passarei no mercado, farei compras para a casa, talvez a limparei, quando chegar. Continuarei escrevendo um artigo, lendo textos para minha dissertação, planejando um curso para fevereiro. De noite entrarei na internet, conversarei, contarei sobre meu dia. Essa é a vida que eu tenho agora e que me faz feliz. É a mesma vida que, por eu estar mudando, não me faria feliz para sempre. Há uma mudança chegando.

domingo, novembro 06, 2011

Cuidar do leitor

Hoje cedo pus minha cabeça a pensar sobre algo que um professor certa vez disse a um colega meu: "gostei muito do teu trabalho, e especialmente do cuidado que tu teve com os leitores, traduzindo as citações estrangeiras. Isso demonstra que tu não está esperando que aqueles que virão a ler teu trabalho devem ter algum nível de conhecimento além dos que já são necessários para se entender uma dissertação de mestrado". Não foram exatamente essas palavras e acrescentei uma coisa ou outra, mas isso me pegou pensando.

Cheguei à conclusão de que deixarei, quando possível, o texto original no texto e, em nota de rodapé, a tradução. Creio que traduzir amplia o acesso, verdade, mas elimina uma parte significativa do trabalho, que é o diálogo com outras estruturas de linguagem que, por sua vez, estimulam diferentes maneiras de pensar.

Quando pensei em escrever esse post, eu ainda não tinha encontrado essa solução, por mais óbvia que ela pareça. Agora que encontrei, escrever parece tão menos com propósito haha!

sábado, novembro 05, 2011

One more thing about me

I just noticed that I forgot to mention that I have a boyfriend. He complains a lot that I make him invisible, and for a first I noticed that as being true. In other moments, that wasn't so evident or even true. He argued with me, once, 'cause I introduced him to a few friends saying his name, only. The point is: my friends already knew he was my boyfriend, so why should I use the label?

Things like that make our relationship complicated. I'm getting used to answer, when asked about it, something like "..., but". But we argued. But we discussed. But he doesn't understand me. But I don't like the way he thinks. Those should be the things invisible.

This is a first

Actually, is the second. Second what? Post in English. Since I have this blog for five years, now, I decided that instead of starting a new one to contemplate my English-speakers friends, I should just adapt the Anthropomorfic Fox into another language. That's why I created a tag where all the posts in English will be stored.

So, let me introduce myself. My name is Tales, I'm Brazilian and 25yo. I have bachelor in Journalism and I'm doing a master in Visual Culture. Most of the time, I'm gay and man, but since I study sexuality, those boundaries are not exactly rigid. I truly believe in practicing what you study =)
I have a tumblr, which is not safe for work, where you can see (and maybe sometimes, hear) things that touch me, that make me feel something or imagine scenarios. Mainly pornography, but I prefer to call it erotic endeavor.

So, that's a briefing. Anything, just ask me. I intend to post regurlaly, but those five years of blogging have proved that I'm not the most present blogger. Let's what happen, OK?

Just a test

Let's see what happens here.

Etnocentrismo

Tenho discutido muito – num sentido mais cordial e menos agressivo – com uma amiga sobre questões financeiras que condicionam nossas vidas. Basicamente, ela decidiu trabalhar exaustivamente ao largo de aproximadamente cinco anos para, depois desse período, ter condições econômicas de viver apenas dos frutos de investimentos iniciados nesse período. Embora frequentemente eu questione o preço desse projeto, ou seja, investir pelo menos cinco anos em trabalho excessivo e distanciamento de distrações, o que quero discutir aqui é outra questão que vem lado a lado.

Ela defende o direito de aproveitar a própria vida e gastar seu dinheiro como bem entende, já que lutou por ele e superou uma série de dificuldades sociais para chegar onde se encontra agora. Esse pensamento é absolutamente justo, dentro de uma ótica capitalista. Tu trabalha, tu gasta. Easy. Ontem, enquanto conversávamos, apareceu um outro ponto: as pessoas deveriam abrir suas empresas, ao invés de ficar na "comodidade" de serem empregadas.

Nesse ponto, entra o tal do etnocentrismo, que é basicamente a ideia de que o nosso grupo social, seja ele qual for, é o que correto, é o parâmetro, é o que sabe a coisa da maneira certa, é o que deveria estar no poder. Ao pensar que todo mundo deveria seguir o caminho da iniciativa privada, minha amiga esqueceu que talvez haja pessoas que não consigam fazer isso. Os motivos podem variar infinitamente entre condições econômicas, intelectuais, físicas ou sociais. Se cada ser humano é diferente, um universo a parte, esperar de todos a mesma coisa é, no mínimo, limitante. Seria o mesmo que eu desejasse que todos os seres humanos fizessem doutorado: nem todo mundo consegue ou gosta do tipo de pensamento analítico-filosófico-artístico que se estabelece dentro da Torre de Marfim. Da mesma maneira, eu não tenho, tampouco desejo, a compleição física de um lutador ou pedreiro. Imagino que um mundo de acadêmicos sem pedreiros seria um desastre.

Ah, parece importante notar: eu não estou menosprezando pedreiros ao colocá-los em comparação com acadêmicos, o que poderia parecer pelo fato de eu ser um acadêmico e não um pedreiro. O que, aliás, serve de perfeito exemplo do que estou tentando dizer: uma postura etnocêntrica poderia reconhecer/construir essa diferença e até confirmá-la, aceitá-la, felicitá-la. O que eu defendo é um olhar para o outro (e não sobre o outro), com o outro, ou seja, o reconhecimento de características e elementos que constituem uma alteridade, no lugar de um esforço para alcançar uma dita normalidade, especialmente quando o normal somos nós. É muito fácil esperar que as outras pessoas tenham as nossas qualidades. O que é difícil é reconhecer que elas não precisam tê-las e, muitas vezes, seus contextos serão tão distantes dos nossos que talvez nós sequer fôssemos capazes de reconhecê-las.

Para finalizar, eu e minha amiga concordamos que abraçar a diferença não é algo difícil, mas é uma postura ética válida. É a postura que eu escolhi para mim, mesmo que isso signifique me prestar a ouvir aquilo com o que e aqueles com os quais eu discordo. Há limitações nesse projeto, obviamente. Fronteiras pessoais, de respeito ao outro e contenção de desejos que poderiam ser realizados (já que tenho poder para fazer muito mais do que faço, inclusive sobre outros), e também morais, envolvendo temas como crimes.

quarta-feira, novembro 02, 2011

Tales, qual é o teu gênero?

Ôu! Ôu!
Ser um homem feminino
Não fere o meu lado masculino
Se Deus é menina e menino
Sou Masculino e Feminino...

Esses dias eu perdi uma oportunidade perfeita de dialogar sobre como os gêneros são socialmente construídos. Estávamos justamente discutindo a pesquisa de uma colega na pós-graduação, que está estudando sua formação de gênero. Uma outra colega nossa assumiu que ela estava estudando feminilidade, mas eu intervim comentando que não necessariamente, que ela não sabia qual era o gênero que ela estava construindo. Então fui perguntado sobre o meu gênero e respondi prontamente que me alinhava com o masculino.

Pensando a esse respeito, e lendo hoje sobre pesquisa autoetnográfica, fui lembrado sobre as complicações de dicotomias como essa, do masculino e feminino. Dicotomizar tem pelo menos três consequências bastante claras: 1) ignora outras possibilidades além de duas e posiciona uma como melhor que a outra. Quando respondi masculino, assumi o discurso que ignora a existência de um contínuo que liga dois pontos idealizados de conformação de gênero. Quase ninguém consegue ser o Homem ideal, tampouco a Mulher. A maioria dos seres humanos se situam no meio desse espectro, e por usualmente conhecermos apenas dois sexos, assumimos que com gêneros deveria ser igual. Bem, que seja igual: o sexo biológico é muito mais complexo do que simplesmente ter pênis ou vagina, envolve hormônios, por exemplo, que interferem no nosso corpo de maneiras tão diversas e variadas entre machos e fêmeas que não é possível realmente separar, salvo numa categorização estanque para análise. O problema é quando essas categorias ganham status de verdade e passam a ser consideradas naturais, inquestionáveis.

Então respondendo novamente: sou masculino e feminino, ou seja lá como quiserem chamar. Eu sou gente, como já ouvi responderem. Acho tão mais fácil responder o que eu não sou...

terça-feira, novembro 01, 2011

Essa tal de ética

Acabei de me dar conta que, para ser ético, ou ao menos o que entendo atualmente por ético, não posso comentar publicamente o que estava matutando para ser meu post de hoje. Brindemos a isso, então, ao segredo que ser ético exige!

Tentarei contornar essas dificuldades. Eu me considero um bom profissional; trabalho com educação, produzo e reviso textos (discursos?) e pesquiso sobre sexualidade.  Acho que, na medida do possível, eu performo essas atividades com alguma qualidade. Enquanto tutor, procuro estar atento aos que os estudantes requisitam. Quando estou revisando e tenho permissão para tanto, interfiro ideologicamente no texto, questionando seus autores ou, no mínimo, aqueles que têm poder para alterá-lo. Na pesquisa, constantemente me ponho à prova de olhares terceiros para discutir e rever posicionamentos. Nada disso garante coisa alguma, já que alguém com posturas diferentes poderiam dizer exatamente as mesmas coisas, acreditar e até ser acreditado. Até por mim, dependendo do caso.

Onde entra a ética nisso? No momento em que eu não acredito que estou oferecendo minha "força de trabalho" para algo bom. É difícil discutir qualquer coisa sem deixar claras minhas posições ideológicas, o que até é algo que defendo enquanto pesquisador: não há objetividade maior do que assumir o seu ponto de vista e rechaçar a pretensão à neutralidade. No que eu acredito? Em me esforçar para produzir uma sociedade que privilegie pluralidades e confronte desigualdades jurídicas e morais. Sim, sim, super vago, mesmo. Sei que existem contradições aí dentro, como a prática de tortura estar incluída na defesa da pluralidade, mas eu assumo uma cláusula de recusa ao que machuca aos outros. Também amplo, mas hei, não esperem que eu resolva questões discutidas há séculos em um punhado de parágrafos, ainda não cheguei nesse nível. De volta à ética, eu não acredito que eu esteja fazendo algo de fato positivo como educador e revisor. O que eu estou ajudando a criar, estou fazendo simplesmente por precisar de dinheiro para alcançar meus planos. Esse post não é uma confissão moral de flagelamento por participar de um sistema capitalista. OK, eu acho o sistema uma droga e preferia que fosse diferente, mas ainda não surgi com nenhuma explicação aplicável. Certo, estou tergiversando de novo...

Enfim, é ético se trabalhar em algo que acreditamos que fará mais mal do que bem às pessoas?

sábado, setembro 17, 2011

Citando a mim mesmo


Tales diz:
 é isso que eu tento fazer sobre tudo na vida =)
 tu inclusive poderá notar um padrão, talvez
 eu sempre me explico como "meio" alguma coisa
 nunca "tal coisa"
 é meu jeito de dizer que não sou completamente, e que também não sou somente

quinta-feira, setembro 15, 2011

Relato de infância e gênero

Eu não fui uma criança muito existente. Ficava na minha, quieto, ouvindo o que os outros viviam e sem atentar para o fato de que poderia também viver. Creio que já era jornalista bem antes de haver me decidido por esse curso de graduação, acostumado que estava em ficar nos bastidores, anotando e registrando as experiências dos outros, algumas vezes relatando, mas nunca participando. Quase um pesquisador objetivo.



Foi por essa quietude toda que guardei pra mim as dores de ser caçoado quando cortei meus cabelos. Eu, menino de lisos e loiros cabelos compridos, doce garoto com aparência andrógina, fui cortado sem piedade. Ou talvez por piedade. Minha mãe, preocupada com as reações que já se somavam frente ao menino-que-parecia-uma-menina, levou-me à cabelereira e mandou-a que me deixasse com cabelos curtos. Lembro que chorei muito enquanto caminhávamos pelo centro, já de volta para casa. Ela apertou forte minha mão, parou, ajoelhou e perguntou: "tu achas que eu faria algo pra te magoar?". Não, não achava, e ainda hoje não acho. Se acredito que ela errou? Difícil dizer, minha vida escolar não era a menos conturbada possível, e certamente não seria mais fácil do que foi se eu mantivesse os cabelos compridos. Naquele momento, eu ainda não compreendia que estava sendo ensinado a ser menino, tanto quanto eu não entendia os comentários homofóbicos dos meus colegas.

Alguns anos mais tarde, cabelos curtos, aula de educação física. Eu não exercitava: caminhava ao redor da quadra enquanto os outros meninos jogavam futebol. Recordo de um dia que, com um casaco nas mãos, coloquei-o sobre a cabeça, amarrando-o e deixando-o cair para trás, algo como se fossem cabelos longos e amarrados. Só hoje, estudando sexualidades e gêneros, percebo alguma importância nessa relação com (como) ter os cabelos.  Meu professor de educação física repreendeu-me, disse-me que se quisesse ser mulher, pois que vestisse logo uma saia, algo que achei curioso e agressivo, pois nunca desejei pertencer ao sexo (gênero) feminino.

Somente agora, repensando esses momentos, consigo costurá-los e perceber que são desejos (frustrações) que se repetem. São modos de ser masculino que não envolvem força e vigor. Foram cuidados, tanto da minha mãe quanto do meu professor, que provavelmente buscavam apenas o melhor pra mim. A gente nunca sabe, contudo, o que aquilo que acreditamos ser o melhor para o outro terá como efeito sobre ele. Quem eu seria se eu pudesse ser quem eu era? Existe alguém que "foi o que era" sem intervenções, sem controles nem permissões?

terça-feira, setembro 13, 2011

Ah, essas convenções

Recentemente deixei de parabenizar dois amigos leoninos por seus aniversários. Eu não sei que dias eles nasceram, essa é uma informação que costuma me escapar e usualmente é tomada por inútil. Aí hoje uma outra amiga comentou sobre o aniversário dela (ontem) e como muitas pessoas a parabenizaram via facebook, alcançando proporções nunca antes vistas. Ela então me cobrou uma mensagem de aniversário, e comecei a pensar sobre isso.
Haver um dia específico no ano para que nos lembremos de alguém é, no mínimo, bobo. Isso, claro, pensando num mundo ideal. Eis que vivemos numa realidade muito fria, chata e distante. Esses dias especiais se transformam em motivos para reencontros, rememorações e recomeços. Eu não preciso, com minha amiga em questão, recomeçar. Nós evitamos encerramentos, pois sabemos que eles tendem a ser permanentes em casos de distâncias parecidas com as que enfrentamos hoje. Nos gostamos demais para deixar que o silêncio seja o tom das nossas conversas.
Aí eu esqueço de lhe dar parabéns. Ah, grande coisa, nós conversamos todos os dias. É algo que eu posso acreditar e que certamente é muito racional. Não há nada de racional em parabenizar alguém pelo dia em que nasceu, óbvio que não. Bem, se tem algo que eu aprendi recentemente, é que o racional não dá conta de tudo o que é humano. Há uma esfera em nossas vidas que, além de atravessar os pensamentos, pode-se dizer que é anterior a eles. As emoções. Parece coisa de powerpoint com fotinhos de bebês. Só que é mais que isso: é estar aberto para o que a gente sente e para o que podemos sentir. É lembrar que também, com o tempo, podemos deixar de sentir, tornar-nos anestesiados. Anestesia que também pode abraçar nossas amizades, torná-las menos importantes, menos centrais pra vida.
Então lembro do Pequeno Príncipe, aquele ingênuo que acha que amor é pra sempre. Eu não concordo com ele, ao menos não nesse ponto. Aquela história de cativar pra sempre é bobeira, se pensada sem filtros. Porém, existem pessoas que a gente quer cativar e quer que nos cativem. Existem pessoas que conseguem isso, que valem o esforço. Aí chega  um dia, passa um aniversário e a gente esquece. Ou nunca soube. Não é um fim do mundo, não é um atentado, mas é um esquecimento. É uma oportunidade a menos de lembrar a pessoa que ela é amada, que ela tem um lugar na tua realidade. É um esforço a menos pra dizer "tu é importante pra mim", e ninguém é eternamente responsável por aquele que cativa se não estiver disposto a pagar os preços dessa responsabilidade.

Amar não é algo que se faça simplesmente amando. Amar é ação.
A minha ação, nesse momento, é dizer Feliz Aniversário atrasado, irmãzinha <3

segunda-feira, setembro 12, 2011

Ciência, filosofia etc

Existe algo complicado em se procurar pela verdade, provavelmente por eu não acreditar que seja possível compartilhar (de verdade) verdades. Heh, irônico, até para não acreditar em verdades eu preciso delas. No plural funciona melhor, já que haver muitas não implica que elas possam ser coletivas por inteiro. Creio que esse é o ponto: não há 100%, coexistência, compartilhamento. A própria ideia de comunicação, enquanto transmissão de saberes e conteúdos, é errônea.

Penso que é por isso que tenho medo de cientistas. Quando me digo acadêmico, perguntam-me o que estou pesquisando, na expectativa de que eu tenha respostas a dar. Ou que eu venha a ter, um dia. Nessa coisa de não querer ter respostas, eu sinto dificuldade em encarnar o estereótipo do professor, aquele sujeito que sabe, que tem certeza, que conhece os caminhos.

Tenho me definido como um filósofo, um sujeito que pensa a vida. Estou numa posição muito delicada para refletir: se a vida não para, como posso ter certeza de que consigo compreendê-la? Mesmo o passado não é passado por muito tempo, vira mais passado rapidamente, e se soma com o novo passado, que logo passa. É, hoje não tenho nada muito concreto para oferecer hehe.

quinta-feira, setembro 08, 2011

Primeiro dia

Hoje foi meu primeiro dia no trabalho novo. Sou agora um revisor de material didático produzido por uma empresa que, aparentemente, deseja se inserir no mercado. O ambiente e as tarefas parecem agradáveis, assim como as pessoas com as quais vou atuar. Mais uma vez estou envolvido profissionalmente com produção editorial, algo que parece que não me abandonará mais na vida. Acho que é bom, e talvez eu procure caminhos para que os estudos de doutorado sejam na área. Faria sentido juntar minhas experiências de editor e de investigador.

Confesso que me senti bem ao ter minha trajetória reconhecida e legitimada pelos meus chefes. Eles dizem ter planos para mim. Isso evidentemente inclui me explorar ao máximo dentro do horário e do salário arranjados, mas fico feliz igual. Aprenderei mais e terei mais histórias a contar e a estudar e a ensinar quando chegar o momento. Estou construindo algo, sinto isso, e sorrio feliz.

quarta-feira, setembro 07, 2011

Balança

É difícil pesar o que fazemos em contraponto ao que esperam que façamos. Já nascemos inseridos numa série de malhas de expectativas. Como ser menino. Como ser filho. Como ser irmão. Como ser sobrinho. Como ser neto. Como ser estudante. Como ser amigo. A série de "como ser" apenas cresce conforme nós avançamos através das experiências de vida. Como ser profissional. Como ser chefe. Como ser independente. Como ser namorado. Como ser amigo do inimigo do seu amigo. Esses sistemas são complexos, se sobrepõem, interferem uns nos outros. Não fosse o bastante, eles não são universais. Ser amigo aqui e lá têm conotações diferentes, expectativas, deveres e prazeres que se diferenciam. Não falo apenas de diferenças culturais maiores, como brasileiros e japoneses, mas também de pequenas distinções. Essas matrizes de expectativas, crenças e valores são tão variadas e tão perniciosas que se espalham e não se permitem enxergar facilmente, mas permeiam todas as relações humanas.

Podemos viver unicamente dessas expectativas? Provavelmente. Elas geram vento suficiente para empurrar nosso barco por uma vida inteira. É o jeito certo de se viver? Depende do que se acredita, de quais expectativas estão em conflito com que desejos. Eu não sei o que é o certo, quais decisões devo manter e em que momentos devo abrir mão. O que acredito, no momento, é na possibilidade de viver mais, viver melhor. A minha medida para isso tem sido o que me faz feliz, o que me deixa sorridente, o que me empolga. Há quem diga que não viemos ao mundo para aproveitar. Tudo bem, exista sem aproveitar, aguardando por uma outra vida em que isso lhe seja permitido. Talvez eu esteja sendo apressado em querer que as coisas sejam boas já agora, ao invés de aguardar pela hora prometida. Prometo não tentar impor minhas crenças sobre ti, triste-vivente. Peço, em retorno, que faça o mesmo comigo: deixe-me livre para caminhar como intento.

Isso significa que não podemos conviver? Não, de modo algum, não significa isso. Diferenças existem entre as pessoas e não significam que devam ser resolvidas em busca de uma resposta certa. Acredito que um dos maiores problemas da humanidade é a vaidade de se crer correto e, por isso, querer que os demais ajam da mesma forma que nós. Como, então, coexistir?

terça-feira, setembro 06, 2011

Ciências

Nessas manias de pensar o por quê das coisas eu acabo passando por cima de crenças e descrenças de pessoas que ora não se permitem duvidar, ora não conseguem. Aquela pergunta maior, que sentido tu dá para a tua vida?, persiste em me assombrar, já que eu não sei exatamente. Não tenho uma resposta a prova de furos. Eu quero fazer com que pessoas ao meu redor vivam suas vidas ao máximo. Eu quero eu mesmo viver ao máximo.  O que é viver ao máximo? É aproveitar todas as chances indiscriminadamente? Duvido. É beber, transar, cheirar, comer o que aparecer? Também duvido. É seguir um rigoroso controle de tudo que se faz? Bem, essa é a única coisa que tenho certeza que não é, ao menos não de todo.

Então hoje, lendo sobre metodologias queer, dou-me de frente novamente com a perspectiva teórico-científica de não se determinar, não se enquadrar, não se definir. Eu sei que é isso que eu quero, e sei que esse é um caminho para chegar até onde desejo, para viver ao máximo.

E os que me circundam, o que fazer com eles? Eu posso tentar abraçar o mundo. Posso me esforçar para que outras pessoas vivam como eu sinto que estou vivendo, aproveitem, se libertem das tranqueiras morais e sociais que tanto machucam. Antes fosse simples.

domingo, julho 31, 2011

Aprendendo

Existe algo de peculiar na maneira como eu aprendo, o que portanto se reflete no modo como eu ensino.

Sexta-feira fui ao chorinho, um evento semanal que acontece a céu aberto em uma avenida de Goiânia, e lá cruzei com um aluno meu da educação a distância em artes visuais. Ficamos um largo tempo conversando, e em certo instante ele disse algo como "é, eu reparei que você não entende de cultura popular quando eu perguntei sobre isso e você falou que iria perguntar para sua orientadora". Logo em seguida, quando ele me perguntou sobre o que eu estava pesquisando no mestrado e eu comentei que tinha ligação com a ideia de conhecimento, ele me perguntou quem eu estava utilizando para estudar.
Há algo nessas duas situações que me incomoda: o que o menino em questão avalia que significa entender algo e como o conhecimento deve ser construído na academia. Eu não encarei a questão quem você está usando como mera curiosidade intelectual, mas sim como um meio de testar minha postura epistemológica e aferir meu conhecimento sobre o assunto. Aferir meu conhecimento. Tive um professor na faculdade que dizia que conhecimento é algo que se empilha, vamos aprendendo e cada vez sabendo mais. Quantidade.

Vou chamar minha forma de aprendizado de holística. Eu realmente não tenho interesse em saber o que Fulano, Sicrano ou Beltrano falam a respeito de um determinado assunto, salvo se de alguma forma eles me tocam, se eu posso dialogar com eles.

Um dia inventei de discutir sobre teoria queer com um amigo que morava no quarto ao lado, e nossa discussão girava em torno de se afirmar gay ou se manter sem nomeações, e qual das duas opções seria mais apropriada como uma manifestação política que se dispusesse a enfrentar preconceitos. Em certo momento, o fato de eu estar recém me aproximando da teoria foi posto em questão, como se o queer fosse o único caminho através do qual eu pudesse chegar nas mesmas conclusões que seus teóricos chegaram (o que presume, aliás, que ler e estudar quem escreve é antes de qualquer coisa uma tentativa de assimilar, ao invés de se afetar). Tive a oportunidade de mencionar um caso em que, nos meus tempos (virginais) de escola, recitei uma das bases da teoria queer sem, obviamente, jamais ter lido algo a respeito. Para mim era óbvia a constatação que eu fiz, e cheguei a ela pelas trilhas da minha experiência de vida.

O que fica implícito nessa noção quantofrênica do conhecimento é que ler mais significa saber mais. Talvez isso até esteja correto. Contudo, mais me preocupa saber melhor, no sentido de conseguir empregar esse conhecimento que venho adquirindo (e enfrentando) para guiar o que um ex-professor meu chamou de "projeto de existência". Aliás, deixe-me riscar o ex, pois fora do ambiente acadêmico ele segue me ensinando muito, logo seria ingenuidade tirar-lhe o papel de professor.
Até pouco tempo atrás eu tinha certeza de que desejava ser professor (essa certeza esmaeceu, embora as razões para que eu a tenha imaginado inicialmente permaneçam as mesmas), porém a ideia de que o professor é aquele que sabe muito me incomoda demais. Não sei se tenho condições e se minha forma de aprendizado me permite encarnar esse papel, mesmo que seja apenas durante períodos em que eu esteja sendo avaliado como digno ou não de ser professor (nas instituições que podem me conferir esse poder).

Essa é a minha atual crise: vale a pena pagar o preço cobrado para me enquadrar, ou existirão alternativas para que minha vida siga tendo sentido e prazer da forma como eu imaginei que deveria ser?
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