sexta-feira, janeiro 13, 2012

O diabinho do capitalismo

Conforme comentei em uma postagem anterior, estou vivendo nos Estados Unidos. Para chegar aqui, precisei comprovar à secretaria de imigração (e à universidade) que eu teria condições financeiras de me sustentar durante esse período. Basicamente, um sujeito para estar aqui precisa provar que terá em torno de mil dólares por mês. Vale contabilizar o que ainda não se tem, mas que se pode indicar que terá, como salários vindouros. Então eu entrei em um regime de contenção de gastos e comecei a trabalhar um bocado mais do que de costume, para juntar o tal do dinheiro. Deu certo. Nesse processo, fui acompanhando mês a mês os números da minha conta bancária subirem e os custos do meu cartão de crédito diminuírem. Conforme eu terminava de pagar meu novo netbook ou meu telefone, o peso foi aliviando. Aí eu chego nos Estados Unidos e descubro que um Kindle custa $ 99 e que um iPhone custa $ 199 (mais o plano obrigatório de dois anos que os safados impõem aqui). E logo me descubro querendo essas coisas!


Eu já gastei alguns dólares em livros. OK, livros, cultura etc. Não é bem por aí, se eu não mudar algo drasticamente na maneira como levo minha vida, esses livros servirão apenas para impacto visual na minha estante. Por mais que eu goste de ouvir "nossa, como tu é culto, olha a quantidade de livros" quando alguém chega na minha casa, não paga o preço e certamente não vale as horas que eu vendi do meu tempo para efetivamente obter esses danadinhos - mesmo que a preços módicos.

Essa é a grande questão, aqui. É tudo tão mais barato do que estou acostumado, portanto é fácil pensar "ei, mas quando eu vou encontrar esses preços de novo?". Aí cogito novo computador, novo celular, um tablet, um e-reader (pois vem com a tecnologia do e-ink, que aliás é realmente muito legal) etc. E o dinheiro para pagar tudo isso, onde está? E o meu uso para essas coisas, que será só de manter caixinha na gaveta?

Logo que cheguei aqui, comprei uma câmera fotográfica. Coisa simples, point and shoot, uma Canon modesta e sem maiores pretensões. Ela já resolve minha vontade de registrar momentos visuais. Detalhe: meu celular também faz isso e com alguma competência. Quem está sempre comigo, o celular ou a câmera? Ela está lá enfiada no meu escritório, e hoje, quando quis fazer uma postagem sobre Chicago, descobri que precisarei esperar a fim de que minhas próprias imagens acompanhem o texto.

Existe tanta coisa que eu posso obter de graça numa biblioteca, na internet, na casa dos meus amigos. Ainda assim, eu quero ter isso tudo. E não, não estou dizendo que vou parar de comprar coisas... Apenas é uma questão de pensar antes, ver se vale a pena, ver se eu vou de fato usar. Já decidi: não comprarei um e-reader enquanto não estiver de volta ao meu ritmo antigo de leitura. Tenho vários livros em casa para ler, por que arranjar um dispositivo que me permitirá ler muitos mais? Para acumular? Vou aproveitar esse meu (breve) momento de lucidez e dizer "não, obrigado".

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