quarta-feira, junho 13, 2012

Ovos mexidos

Hoje eu resolvi iniciar um caminho que pretendo longo: minha vida de cozinheiro. Quem me conhece sabe que o desejo de cozinhar maravilhosamente vem de longe, mas vários fatores, entre eles a preguiça e, mais que todos, a timidez de tentar, têm me impedido de aprender a arte da culinária. Essa timidez de tentar é uma bobeira minha que me faz recusar as coisas que eu não sei fazer, que me impele a não experimentar aquilo que eu não conheço os resultados mais prováveis. É uma coisa boba, eu sei, e está na minha lista de mudanças necessárias, mas as prioridades do momento ainda são outras.

O que mudou nesse cenário? O livro Cozinha para leigos. Comprei-o em São Paulo e resolvi segui-lo fielmente, experimentando todas as receitas e testando as possibilidades e ideias que ele oferece. Há meses eu procurava um livro que conseguisse resumir as peripécias da culinária e as apresentassem para um leitor que desconhecesse o metiê. De nada me adiantava, em livros de receita, achar as coisas prontas e não saber o que é untar, ou do que estão falando quando dizem salté. Agora eu sei. Bem, eu comecei a saber.

Meu primeiro experimento, que eu deveria ter fotografado, mas no afã de comer, esqueci, foi: ovos mexidos. Coisa simples, com vários ovos, temperos e leite e creme de leite. Nunca na vida eu imaginaria que essas são coisas que a gente mistura, ovo e leite para fazer comida salgada. Leite, para mim, sempre foi sinônimo de doce. Menos no strogonoff, que leva creme de leite para ficar marrom.

Se ficou bom? Bem, se eu colocar o dobro de sal, pimenta e coisinha verde, talvez fique melhor. Por enquanto, meus ovos mexidos ficaram com gosto de ovos com leite. Ah, mas eu adorei a consistência!

domingo, junho 03, 2012

Pais gays

Achei em: http://joemygod.blogspot.com/2012/05/jcpenney-launches-fathers-day-ad.html

Para quem não lê em inglês, eu traduzo o anúncio. Em cima, diz assim: "Primeiros amigos: o que faz Papai tão legal? Ele é treinador da natação, construtor de cabanas, melhor amigo, consertador de bicicletas e abraçador - tudo em um só. Ou em dois". Embaixo, diz o seguinte: "Pais da vida real, Todd Koch e Cooper Smith com suas crianças Claire e Mason".

Essa foi a propaganda de uma loja chamada JC Penney. Nunca ouvi falar, talvez seja mais uma loja de roupas tentando abocanhar o bolso de uma fatia significativa da população. Seja altruísmo ou não, eles estão publicizando uma imagem que reconhece que, mais do que qualquer coisa, eu existo. E isso, sinceramente, vale o meu dinheiro.

Como ensinar sobre sexualidades?

Essa é uma pergunta que tem me marcado e perseguido. O que é importante que as pessoas saibam sobre sexualidade? Como compartilhar esses conhecimentos? De que maneira confrontar as ignorâncias que permeiam o tema?

Desde o ano passado, já ofereci quatro cursos de extensão online sobre sexualidades na educação e ainda não resolvi esta questão. Não acho que haja uma resposta única ou permanente, não seria tão fácil. Minhas primeiras tentativas foram marcadas pela crença em um lugar comum entre eu e os estudantes: a busca pela justiça social, pela construção e proteção de ambientes seguros para livre expressão e experiência de comportamentos e desejos afetivos e sexuais. Alguns exemplos nestes cursos, porém, me serviram para perceber que os interesses nem sempre são os mesmos. Em diversas ocasiões, o interesse dos professores é o de manter a posição privilegiada que a sua alegada normalidade lhes confere. O benefício da dita normalidade é um que é difícil de explicar e fazer ver, pois ele não acrescenta nada, apenas não subtrai. Enquanto o anormal não pode coisas, o sujeito considerado normal simplesmente pode desde sempre, é um direito humano, de nascença.

Tirinha do artista Laerte
Daí vem a história do banheiro e de quem pode ou não usá-lo sem ser questionado. Esse é o problema dos privilégios invisíveis: o homem entra no banheiro masculino porque ele nasceu com pênis e nunca se diferenciou significativamente ou publicamente daquilo que é considerado normal. Uma mulher nascida presa num corpo masculino e que, por isso, traveste-se, ela não, ela precisa dar explicações sobre as razões pelas quais o seu corpo está frequentando um espaço errado. Como aprendi em um dos cursos que ministrei, ela precisa dar explicações não pelo desconforto que ela sente, mas pelo desgosto e descompasso que os normais sentem.

Aí eu penso que o grande segredo de um curso sobre sexualidade seria atacar a ideia de normalidade. Faz sentido, especialmente se considerarmos discursos religiosos que, por exemplo, defendem alguns como mais sagrados que outros e, muitas vezes, justificam discursos de ódio contra sujeitos que não pertençam a esses povos considerados puros e santos. Ainda puxando a experiência dos cursos em que ensinei, uma aluna questionou a discussão sobre homossexualidade trazendo o trecho da bíblia cristã (Levíticus, acho que 22:18) que menciona que um homem que deitar com outro homem será uma abominação. Alguns parágrafos para frente, o mesmo livro que prega a harmonia e a paz manda matar esses homens. O argumento contra essa questão é relativamente mais fácil que o dos gêneros: se tantos outros trechos do Levíticus foram revogados, ignorados e repensados, como o de apedrejar as crianças que não obedecem, o de não tocar em mulheres durante a menstruação ou o de não misturar tecidos diferentes numa mesma roupa, então por que deveríamos nos prender a atacar homossexuais? Até onde eu entendo, isso tem nome. Aliás, tem vários. A gente pode chamar de ignorância, ou de cretinice, ou de leitura seletiva. A gente escolhe o que serve melhor aos nossos propósitos e finge que o resto não é importante. O que me deixa triste, nisso, é que as pessoas escolham se agarrar àquilo que prega que outros sujeitos devem ser considerados menos importantes, menos humanos.

Achei essa imagem no: http://polemicas.info/homossexualidade/  
O problema da ignorância é que ela não é uma simples falta de conhecimento, mas sim um resultado da maneira como a gente conhece as coisas. Então não adianta eu tentar mostrar que existem outras formas de viver os afetos e prazeres, que gêneros são mais do que dois ou que corpos não são tão limitados como somos ensinados na escola. Aquilo que sabemos está intimamente ligados com aquilo que acreditamos, e nossas crenças são alvo de um imenso investimento emocional. O que sabemos organiza o modo como lidamos com o mundo, como o percebemos, como decidimos o nosso papel nele e, também, o dos outros.

O ensinar sobre sexualidade nunca vem em um contexto vazio de significados anteriores. Desde crianças nós somos enchidos de posições normalizantes, somos levados a acreditar que existem apenas algumas poucas maneiras corretas de existir. Cada vez mais eu sinto que o que eu quero ensinar são informações, mas o que precisaria ser mudado são valores.

sábado, junho 02, 2012

E agora, mestre?

Mais um fim de temporada no seriado que é a minha vida. Desta vez, a grande etapa concluída foi o mestrado. Depois de dois anos e alguns meses lutando para viver em uma cidade distante de onde cresci, conquistei o título que me motivou a viajar. Não foi uma aventura fácil, isso com certeza. Desde que parti de Porto Alegre, distanciei-me de alguns amigos e, curiosamente, tornei-me mais próximo de outros. O mesmo aconteceu em Goiânia, onde deixei de ser uma pessoa distante e abri-me para entrar em contato com outras pessoas.

E o homossexual, usa que banheiro?

Marcando esse momento, a pergunta "e agora?" tem aparecido mais do que qualquer outra. Mais até do que "qual a sensação de ser mestre?". Responder a essa é até fácil: sensação de dever cumprido, de missão completada com êxito. O que falta, agora, é refletir sobre a experiência e encontrar um novo rumo, uma nova busca. O meu barquinho deve partir para novos portos, novas ilhas, novas peripécias.

E agora? Não sei. Sinto-me como Érica, minha personagem favorita de seriados, no fim do episódio piloto de Being Érica, em que ela diz estar perdida, sem saber para onde ir e que, pela primeira vez, isso é uma coisa boa. Talvez não seja a minha primeira vez, mas certamente não tive muitas, até hoje, em que estar perdido fosse tão gostoso. Eu enxergo alguns caminhos e isso já me descansa, ao menos um pouco, os pensamentos conturbados. Férias intelectuais? Projeto de doutorado? Viagem pelo mundo mochilando? Não sei, não sei.

Por enquanto, tenho apenas uma aventura já definida e bem próxima: São Paulo.
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