sexta-feira, setembro 28, 2012

Essa coisa de sonhar com o futuro

Atualmente dar aula tem sido a minha vida. Eu leciono cinco disciplinas e oriento dois TCCs. Há cinco anos, esse era o lugar em que eu queria estar. Já no fim da graduação, decidi-me por não ser jornalista atuante. Sem saber exatamente para onde ir e por conta de uma série de experiências pessoais – várias das quais estão relatadas aqui na Raposa Antropomórfica , decidi ser professor. Eu queria mudar pessoas. É, isso mesmo, eu acredito em ir lá e fazer a diferença na existência de uma criatura. Ou duas. De preferência todas, mas não sejamos gulosos. Planejei um caminho –  que era mais ou menos óbvio, especialização e mestrado – e cheguei ao meu lugar desejado.

É nisso que eu penso quando vejo o pessoal que estuda comigo. Eles têm interesses, sonhos e vontades que estão com a mesma energia e determinação que eu tinha anos atrás. Eu acho isso admirável, essa fome de vida, essa vontade de fazer com que a vida aconteça. Se tem uma coisa que eu quero fazer, como professor, é o possível para que esses sonhos estejam sempre mais próximos. Tá, eu também quero ensinar a minha matéria, mas vamos fingir que eu não disse isso. A questão é: o que eu posso fazer pelos sonhos dos outros? Não sei. Por enquanto, acho que eu posso minimamente divulgar. Se tem algo que eu acredito sobre alcançar as coisas, é: as pessoas precisam saber de nós, ouvir falar que nós existimos, que nós queremos algo que elas podem nos oferecer. Essa é a minha (pequena e talvez só primeira) parte.




quinta-feira, setembro 27, 2012

A montanha russa da vida docente

Eu realmente acredito que as nossas emoções são muito mais fortes e impactantes nas nossas decisões do que o nosso aparato racional. Sério. Exemplo? Aquele dia em que tu tinha que trabalhar, mas acordou tão indisposto por haver terminado um relacionamento de dois anos e meio no dia anterior que tudo o que conseguiu foi virar para o lado e dormir. Ou aquele clássico momento de absoluto tesão e pegação firme em que se percebe que as camisinhas acabaram.

Nossas emoções não são somente nossas. Como tudo na vida, elas são compartilhadas. Se eu estou com raiva de alguém, há uma larga probabilidade de esse alguém ter feito algo que despertou essa raiva. Não quero entrar no mérito de ser certo ou errado ficar raivoso por A ou B, mas sim apontar a interação humana como fundamental para a nossa regulação emocional.
Fonte: http://chrisbonney.deviantart.com/art/reflecting-anger-63866549
Aí entra em cena a minha vida docente. Que, como o título dessa postagem sugere, está sendo cheia de altos e baixos, movimentos vertiginosos, tonturas e excitações. Eu amo e me empolgo a ideia de trazer algo para um grupo de pessoas interessadas em esse algo. O cenário ideal da educação. Acontece que, muitas vezes por motivos que não dizem respeito a mim, nem todas as pessoas que estão lá toda semana estão interessadas em discutir e pensar sobre as questões que tento levantar.

Como um sujeito típico, eu sou influenciado pelo desânimo alheio e pela falta de interesse naquilo que estou propondo tanto quanto pelo brilho nos olhos, pelas conversas de intervalo e pelo retorno positivo. Como aluno, eu sempre tentei lembrar os professores dos quais eu gostava que eles estavam fazendo um bom trabalho, que estavam se esforçando e tal. Sendo essa a minha primeira experiência docente em uma sala de aula física – até hoje trabalhei muito com educação a distância –, as críticas e os embates em sala de aula têm um impacto maior do que imagino que terão dentro de dez anos. Eu olho para minha metodologia de ensino, para minha performance na frente da sala e para as propostas de trabalhos e atividades e me pego pensando se não deveria fazer diferente, se funcionaria em outro contexto, o que eu preciso fazer para encantar as pessoas.

Segue na minha imaginação aquela figura do professor que estimula os alunos, que é tão energético e sabedor que consegue transpirar excitação e transforma o ambiente educacional – a sala de aula – em algo realmente legal e empolgante. Já tive professores assim, sei que eles existem. A diferença é que hoje, ocupando o papel de professor e tentando viver o papel deste professor encantador, fica cada vez mais óbvio para mim que eu não sou capaz de fazer isso sozinho. Aqueles que me encantaram o fizeram porque eu estava aberto ao encanto. As matérias que me motivaram um dia já mudaram, as que não me atraíram começaram a despertar interesse tempos depois. Eventualmente alguém que esteja contigo na sala de aula se sentirá atraído pelo que está acontecendo ali. Sentir-se, aliás, é a palavra principal aqui.
Imagem do filme A Sociedade dos Poetas Mortos
Ontem, na aula de Gestão, insisti que os estudantes localizem suas paixões, aquilo que os movem a quererem acordar de manhã e irem para a vida. Eu sei o que me motiva a ser professor e é justamente a dependência da aprovação de outrem que me machuca. Eu quero abrir portas para outras pessoas, portas que eu queria que outros tivessem aberto para mim antes. Indicar caminhos que, se percorridos mais cedo, talvez tornem uma vida mais feliz antes. Agora, não amanhã, não daqui um ano.

Tem sido difícil acreditar (o tempo inteiro) que isso pode acontecer. Acredito em alguns momentos, desacredito em outros. Eu queria a ilusão da crença plena, confesso. Infelizmente, ela não está acessível. Depois que a gente aprende algo, não tem como desaprender. Depois que a gente começa a ver que algo está lá – incomode-nos ou não –, esse algo não desaparece. Não é curioso que eu ainda tenha dúvidas de por que as pessoas resistem a aprender?

sábado, setembro 22, 2012

Ataca no gol?

Essa é daquelas que eu sempre tive medo, mas não vivia há décadas. Bem, há uma década. E meia. No meu sonho desta noite, era um dia de jogo de futebol, Brasil x Argentina, algo corriqueiro e desinteressante para mim, não fosse o fato de que vieram me perguntar se eu atacava no gol. Eu. Futebol. Seleção brasileira. Aí fui lá e fiquei no gol. Defendi várias, mas sempre espalmando as boladas e devolvendo-as - inadvertidamente - para os jogadores argentinos. Era um massacre emocionante, cada defesa corrida e suada e com pulos imensos, mas sempre cometendo um erro e a bola não indo longe o bastante, não indo para o lado certo e assim por diante. Por fim, acabei levando um gol e me dirigindo ao rapaz que havia me indicado para jogar. Afirmei fortemente - e foi quando começou a chover, se é que isso importa - que eu precisava treinar mais, estava decidido a não viver aquele fracasso de novo. De pronto, acordei.


Eu não quero psicologizar nada, mas não deixo de remeter isso à quinta série, quando fui pela primeira vez perguntado "ataca no gol?" e acabei aceitando, mais por não saber o que iria acontecer do que por sim, ser um bom goleiro. Em questão de dez minutos, todos meus colegas do colégio entenderam que eu não era uma pessoa para jogar futebol. Em questão de dez minutos, levei uns cinco ou seis gols e acho que não defendi nada. Assim começou minha rica relação com o futebol: sempre que tinha jogo, no time em que eu estivesse, eu era o goleiro. Aos poucos, fui melhorando. Nunca fui bom, aquele que as pessoas pensavam "nossa, vamos jogar, mas o Tales fica no gol". Contudo, eu fui deixando de ser tão ruim, de ser simplesmente uma pessoa que fugia da bola.

Essa, contudo, não é uma história de superação pessoal.
É, na verdade, uma história de alguém que morre de medo de falhar e que hoje em dia prefere não entrar na frente de uma goleira se não acreditar que tem condição de defender alguns, senão todos, chutes. Agora sim psicologizando, isso é algo que quero mudar em mim, esse medo de tentar. Aos poucos, vou criando coragens e desafiando esses meus medos, mas nem sempre funciona. Fico feliz que no meu sonho desta noite eu tenha decidido treinar e me esforçar, ao invés de dar de ombros e aceitar que não sei jogar. Já fiz tanto na vida real que até o meu inconsciente já está de saco cheio.

sexta-feira, setembro 21, 2012

Aaron - U turn



Essa música é do filme Não se preocupe, estou bem. Uma boa pedida para casais, pessoas levemente entristecidas ou em necessidade de soltar lágrimas. É o tipo de música e de filme que te lembram que, algumas vezes, tu está sozinho, mas que, mesmo sozinho, outras pessoas estão lá por ti.

Não entendo meio termo

Eu não sei ser sutil. Não que eu ache desimportante ser sutil, pelo contrário. É simplesmente algo que eu nunca aprendi e que agora me faz falta. Se eu tenho algo a dizer, eu geralmente digo tudo sem lubrificante ou não digo nada, para evitar problemas. O oito e o oitenta funcionam fácil, aqui, mas o trinta e cinco, não. Aí tem uma pessoa que não é o que eu queria que ela fosse: eu me fecho. Aí tem um amigo que vai se afastando e eu vejo isso: eu me fecho. A alternativa é agressiva demais, é gritar "tu está indo embora da minha vida, se continuar assim estamos acabados!". Bem, é o que vejo, é o que sinto. É o que eu não queria ver nem sentir, mas se for para manifestar, manifesto gritando. Tenho vontade de perguntar "é isso que tu quer?", quando na verdade nem sei se a pessoa sabe que está fazendo isso. E se souber e quiser, dói mais ainda.

Essa coisa de não saber jogar com o meio termo também é um problema nas minhas relações. Se eu te quero pra amigo, te quero pra amigo agora, para sempre e com tudo. Alguém uma vez disse que o que lhe cativava era perceber que confiavam nele. É assim comigo: a confiança me anima, me aquece, me conforta. Saber que tu escolheu conversar comigo, falar o que não falaria para outros, tudo isso me dá um ar de importância, um ar de tempo dedicado. Eu retribuo isso. Ao mesmo tempo, ver e sentir e saber coisas que estão ali, mas não são ditas nem compartilhadas me dói, me dá vontade de afastar, de voltar para um mundo que seja só meu e que não dependa da vontade dos outros.


Acho que era por isso que, quando criança, eu gostava tanto de escrever. O mundo transcorria como eu queria, como eu desejava. Eu estava plenamente no controle. O mesmo acontecia com os jogos de RPG. A única coisa que nunca se confortou em me obedecer foi a vida, o resto dos humanos. Aí tu conhece uma pessoa e ela te promete mundos, mas nem aparece de novo para cumprir. Aí tu conhece outra e acha que estabeleceu uma relação de abertura, mas na verdade existem muitas pontes quebradas.

Eu não sei ser 50%, 95% também não me serve. Para a minha vida, só rola quem quer os meus 100 e, em troca, também dá 100.

É pedir demais, esperar um mundo no qual as pessoas se entreguem como eu estou disposto a me entregar?

quinta-feira, setembro 20, 2012

E se?

O que aconteceria se eu pudesse usar um espaço virtual para a elaboração de uma disciplina de metodologia científica? Um blog, por exemplo, que servisse como coletânea de produções estudantis e, ao mesmo tempo, de espaço para trocas de materiais? Seria útil? Ou seria apenas mais uma ideia perdida? Pensando bem, creio que disciplinas como produção gráfica e redação publicitária teriam maiores utilidades para um espaço virtual colaborativo.

Reflexões, reflexões!

quarta-feira, setembro 19, 2012

Apenas um comentário

Percebi agora duas coisas: primeiro, disciplinar o (uso do) tempo não é lá tão difícil; segundo, a gente realmente não enxerga aquilo que não sabe que pode enxergar. Não é a mesma coisa que dizer que os índios não viram as caravelas, pois isso seria uma impossibilidade física. Contudo, eles podem não ter tomado consciência do que elas eram - ou sequer prestado atenção nelas - até que estivessem próximas e evidentes demais para serem ignoradas. Ah, as maravilhas da percepção e do conhecimento!

sábado, setembro 15, 2012

A experiência de ser professor

Nesse semestre, pela primeira vez, minha experiência com a educação não está na posição de aluno ou na de tutor. Como aluno, a maior parte do meu trabalho era cumprir exigências e tarefas propostas por professores, de preferência alcançando os requisitos mínimos que eles determinavam. Nem sempre as estratégias pedagógicas faziam sentido e muito do que eu "aprendi" ficou para trás sem deixar marcas mais permanentes na minha memória.

Como tutor, a maior parte do meu trabalho foi ficar entre os professores e os alunos, cumprindo os pedidos dos docentes e tentando estimular os estudantes a se engajarem com as atividades. Não é uma tarefa exatamente simples, pois envolve motivar os sujeitos a quererem aprender. Ou melhor, a quererem estudar e lidar com os desafios propostos; aprender é outra história.

É justamente por saber que aprender é outra história que tem sido tão difícil atuar como professor. Enquanto como tutor eu podia passar os descontentamentos adiante, desviar das reclamações e meramente cumprir ordens, como professor eu sou a pessoa que planeja e executa. Além disso, sou a pessoa que lida com as irritações e frustrações dos estudantes. No meio de todas essas questões está a dúvida: o que fazer para que os alunos aprendam?

Eu sei zilhões de teorias que respondem a essa pergunta, de uma forma ou de outra. Entendo que tenho que motivá-los. Ou ajudá-los a encontrarem suas motivações por conta. Sei que tenho que oferecer coisas que façam sentido para suas vidas. Que encaixem nas suas visões de mundo. Aprender contrariado não é fácil e dificilmente aponta para o lado que o professor deseja.

Não é, portanto, apenas uma questão de saber exatamente o que está fazendo, de ter domínio de um determinado campo do conhecimento. Nunca foi. É questão de dar a mão para esses sujeitos que estudam comigo e, com a confiança (deles) de que vou levá-los a um lugar diferente, ajudá-los a atravessar essa ponte que é minha disciplina. Nem todo mundo quer ir a esse lugar diferente. Nem todo mundo quer pegar na minha mão. Alguns preferem nadar, ao invés de cruzar a ponte. Outros preferem ficar onde estão. E se, no fim das contas, não houver nada que eu possa fazer a respeito de quem não quer a ponte? E se, no fim das contas, tudo o que eu posso fazer é tornar a ponte o mais segura possível, para que a maior parte consiga passar?

Tenho medo de um dia perder essa preocupação.

quarta-feira, setembro 12, 2012

Entre temporadas

Silenciosamente, sem avisar ninguém, acabou uma temporada. Nada de grandes finais, nada de emoções muito exageradas. Bem, talvez algumas. É, certamente algumas. Mais uma temporada encerrada, empregos, estudos, tudo isso concluído. Um amor antigo desenterrado e tirado de cenário. Uma paixão fora de lugar devidamente guardada na gaveta a que pertencia.

Assim, também silenciosamente, uma nova temporada nasce. Com dúvidas sobre o futuro, muitas. Com preparações para uma mudança drástica de cenário. O que virá? Não sei, ninguém sabe. Gostaria de saber, mas estou feliz. Eu genuinamente estou feliz. É o começo de uma nova temporada!
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