sexta-feira, maio 17, 2013

Você sabe o que significa ser normal?

"Você não está sendo oprimido quando outro grupo conquista os direitos que você sempre teve". Essa é uma das frases que circulam na internet na tentativa de conscientizar as pessoas que absurdos como preconceito contra heterossexuais e marchas do orgulho branco são somente isso: absurdos. Afinal, como sabemos, o padrão da normalidade é criado em nossa sociedade por uma série de características arbitrárias: a cor da sua pele, a sua anatomia sexual, quanto dinheiro há em sua conta bancária, o tipo de relacionamentos estáveis mantidos, a sua crença monogâmica em alguma divindade, o seu acesso cultural a uma forma específica de arte e entretenimento etc.

curva normal
Encontrei aqui: http://www.anormais.com.br/

Estatisticamente, agrupamentos de pessoas têm a tendência de parecer como essa curva aí. A linha do meio é o ponto médio, com maior quantidade de pessoas. São as características medianas, típicas, mais prováveis de serem encontradas entre qualquer sujeito que puxemos do grande grupo. Quanto mais para esquerda no gráfico, menos temos daquela característica. Quanto mais para direita, mais temos. Para fins de ilustração, vamos pensar no quociente de inteligência: a grande maioria está ao redor do meio, que concentra 68,2% da população. É muita gente.

A área em azul escuro está a menos de um desvio padrão (σ) da média. Em uma distribuição normal, isto representa cerca de 68% do conjunto, enquanto dois desvios padrões desde a média (azul médio e escuro) representam cerca de 95%, e três desvios padrões (azul claro, médio e escuro) cobrem cerca de 99.7%. Este fato é conhecido como regra 68-95-99.7, ou a regra empírica, ou a regra dos 3-sigmas. (copiado diretamente da Wikipedia)

Em termos práticos, ser normal significa se encaixar nessa faixa azul mais escura. Quanto mais distantes dessa medida média, menos gente tendemos a encontrar, tanto para menos (esquerda) quanto para mais (direita).

Então é bom ser normal, certo?

Depende. Na verdade, não é nem bom nem ruim. É normal. Só isso. Contudo, acontece em nossa sociedade ocidental um tipo de pensamento binário que funciona assim: a gente é ou uma coisa, ou outra. É homem ou é mulher. É alto ou baixo. É rico ou pobre. É feliz ou triste. É hetero ou homossexual. É ativo ou passivo. É magro ou gordo. A essa altura, creio que já está bastante evidente essa polaridade, mas não podemos esquecer de mais uma: bom ou ruim. Todos os primeiros elementos destes binários são considerados positivos, enquanto seus opostos são considerados negativos. Por essa lógica, ser homem é melhor, em nossa sociedade, do que ser mulher. Todos nós sabemos o quanto isso é um absurdo, não? Bem, deveríamos saber.

Então, ainda que ser normal não seja em si nem bom nem ruim, nós o colocamos no binário normal x anormal. Obviamente, o 'anormal' está pareado com 'ruim', portanto fazemos cara feia e desgostamos.

E se o normal fosse ser o que é?

Nas aulas que leciono, meus alunos são proibidos de usarem as palavras 'normal' e 'normalidade', uma vez que entendemos que qualquer normalidade decorre de um ponto de vista específico (que por tabela está ignorando as experiências e vivências de todo um grupo de pessoas que não está enquadrado no 'normal'). Junto com isso, busco aprofundar com eles o entendimento de que os conceitos não são meramente opostos, eles são complementares, dependentes de uma posição determinada para serem compreendidos. Uma perspectiva.

Desafiar o paradigma binário da normalidade não é fácil. Na verdade, é até pouco inteligente, de um ponto de vista egoísta, caso nós desfrutemos dos privilégios de sermos normais. Como uma raposa que vez ou outra experimenta ser humano, porém, faço um convite: que tal tentarmos ser menos normais e mais humanos?

Um comentário:

Rafael M. disse...

Menos normais e mais humanos: gostei disso.

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